A RARA HABILIDADE DE QUINCAS LARANJEIRAS
Quem era Quincas Laranjeiras
Quincas Laranjeiras era filho de José Francisco dos Santos e de Flausina Maria dos Santos. Seu nome completo era Joaquim Francisco dos Santos. Nasceu em Olinda em 08/12/1873. Veio para o Rio de Janeiro com apenas seis meses de idade. Seu pai era carpinteiro de profissão, e tinha fama de bom violeiro. Com o intuito de ajudar na economia do lar, com apenas 11 anos, ele foi trabalhar na Fábrica de Tecidos Aliança, em Laranjeiras. Daí então, a origem de seu apelido: Quincas se derivou de Joaquim e Laranjeiras era o bairro em foi trabalhar. Saiba nesta postagem porque Quincas era um solista de rara habilidade.
O TRABALHO NA FÁBRICA
Quincas Laranjeiras trabalhou na fábrica dos 11 aos 15 anos de idade. Quando iniciou este trabalho, faltavam ainda cerca de 3 a 4 anos ainda para a abolição da escravatura. A utilização da mão de obra escrava ou semi escrava era assim, latente no cotidiano de fábricas, comércios, engenhos e lares brasileiros. Havia grande número de mulheres negras e de crianças, o que refletia o interesse de atrair uma mão-de-obra pobre e barata. Essas pessoas formavam um contingente de pessoas que reunia condições socias, econômicas e culturais vulneráveis; portanto, teria menos potencial para se organizar em sindicatos ou oferecer resistência às jornadas extenuantes de trabalho. É neste contexto então, que o pequeno Quincas começa a sua vida profissional fora de casa.
A ESTRUTURA DA FÁBRICA DE TECIDOS ALIANÇA
A Fábrica de Tecidos Aliança foi a maior indústria de tecidos do país, no final do século XIX. Possuia uma estrutura de entretenimento como: cinema, teatro, bandas, salões de música e sociedades recreativas; dessa forma, essa estrutura tinha como objetivo proporcionar ocasiões além de entretenimento, disciplinar os trabalhadores evitando mobilizações operárias. Havia assim, uma Banda e João Elias, era o professor e regente. Quincas se integrou à banda e teve então a oportunidade de aprender os primeiros elementos musicais. Estudou inicialmente flauta e depois se apaixonou pelo violão. Facilmente, logo depois, tornou-se ‘monitor’ nas aulas de música, ensinando assim seus companheiros mais atrasados, tal foi o seu aproveitamento.
FORMAÇÃO MUSICAL
A RARA HABILIDADE DE QUINCAS LARANJEIRAS
Com pouco mais de uma década de vida, portanto, Joaquim possuia já uma bagagem musical e dominava a leitura de partituras. Se, por um lado, a formação na banda lhe dera acesso aos códigos musicais teóricos e escritos, por outro, a recorrente participação em rodas de choro e acompanhamentos de modinhas, nas danças de salão e canções populares lhe conferiram uma refinada capacidade auditiva. A Teoria Musical era ainda pouco acessível à maioria de seus pares. Em síntese, Quincas se tornara, muito jovem, um artista capaz de tocar violão de ‘ouvido’ e ‘por partitura‘. Esta dupla habilidade seria decisiva para que ele se convertesse em uma espécie de “mediador” do instrumento entre as diferentes camadas sociais e espaços socioculturais diversos.
A INTRODUÇÃO DO ENSINO DE VIOLÃO POR MÚSICA
A RARA HABILIDADE DE QUINCAS LARANJEIRAS
O conhecimento que adquirira lhe permitia travar contato com os fundamentos técnico-musicais dos autores clássicos mais em voga do período. À época, esse tipo de formação era raro; como já dissemos, era dado especialmente entre crianças oriundas de uma classe social mais alta, principalmente para o aprendizado de piano. Alguns professores se ofereciam para dar ‘aulas com partitura‘. E ele, conhecedor desta habilidade, lançou-se também a este tipo de ensino e acredita-se que ele tenha sido então o introdutor do ensino de violão por música no Rio de Janeiro, utilizando o ‘Método de Dionísio Aguado‘. Muitos pesquisadores dizem que ele foi um grande divulgador também do método ‘A escola de Tárrega’. Dentre seus alunos, destacam-se, José Augusto de Freitas, Antônio da Costa Rabello e Levino Albano da Conceição. Veja postagem sobre Levino da Conceição neste Blog clicando: https://conclavedesol.mastermusica.com.br/levino-da-conceicao-que-superou-limites/
A CARREIRA MUSICAL
A RARA HABILIDADE DE QUINCAS LARANJEIRAS
Freqüentava a Casa de Música Rabeca de Ouro, instalada na Rua da Carioca, onde travou conhecimento com os grandes violonistas da época. Fez conhecimento com vários colegas do instrumento e colaborou para a fundação e organização da Estudantina Arcas, (Estudantina: grupo de estudantes que executam músicas) onde passou a lecionar violão. Destacou-se também, como violonista da orquestra da Estudantina Euterpe, formada à base de instrumentos de corda. Participou do grupo que se reunia no Cavaquinho de Ouro do qual faziam parte Heitor Villa-Lobos, Anacleto de Medeiros, Zé do Cavaquinho, Juca Kalut, João Pernambuco e Irineu de Almeida. Foi uma das figuras de destaque da orquestra do Rancho Ameno Resedá. Além de acompanhador, foi solista do instrumento, tendo estudado e executado obras de Carcassi, Carulli, marcando assim, uma atuação mais voltada para o violão clássico.
A REVISTA ‘O VIOLÃO’
Colaborou com a revista “O Violão” a partir de 1928, apresentando nos dois números iniciais arranjos para violão. Sua composição mais conhecida, a valsa ‘Dores d’alma‘, é um exemplo pioneiro na utilização do arraste – efeito resultante do deslizar de um dedo sobre a corda grave do violão – e que se tornou popularmente conhecido com a interpretação de Dilermando Reis. (Veja postagem sobre Dilermando Reis neste Blog clicando: https://conclavedesol.mastermusica.com.br/dilermando-reis-e-sua-magestade-o-violao/). Participou também ao lado de Sátiro Bilhar, Chico Borges, Mário Cavaquinho, Irineu de Almeida da serenata em homenagem a Santos Dumont, organizada por Eduardo das Neves em 7 de setembro de 1903. Depois foi convidado por Catulo da Paixão Cearense, para acompanha-lo no concerto realizado no Instituto Nacional de Música, onde se apresentou também como solista.
SOLISTA DE RARA HABILIDADE
Frequentava os célebres saraus da casa O Cavaquinho de Ouro e frequentemente convivia com Villa-Lobos, Catulo da Paixão Cearense, Anacleto de Medeiros, Irineu de Almeida, Juca Kalut, Zé Cavaquinho e João Pernambuco. Em conclusão, Quincas se aprofundou no estudo do instrumento e além de grande acompanhador tornou-se solista de rara habilidade. Tocava com desembaraço polcas, valsas e o repertório violonístico de grandes compositores da época como: Carcassi, Carulli, Aguado, Castellatti e Antonio Cano. Foi pioneiro no ensino do violão “por música” no Rio de Janeiro, adotando os métodos de Dionísio Aguado e F. Tárrega. Ampliou o repertório do instrumento escrevendo transcrições e arranjos para violão solo. Seu choro Sabará foi gravado em 2002 na coleção de CDs “Princípios do Choro” (Acari Records/ Biscoito Fino).
O CASAMENTO DE QUINCAS LARANJEIRAS
Pouco se sabe do seu casamento. Sua esposa se chamava Olga Correia dos Santos e consta que eles se casaram no Rio de Janeiro; porém não se tem notícia se o casal tenha tido filhos. As notas fúnebres por ocasião da morte dele, foram assinadas por ela, e nas colunas sociais que noticiavam os aniversários, se encontram o nome dela como companheira do músico. Quincas faleceu no Rio de Janeiro em 03/02/1935. Não se encontram muitas informações sobre sua morte.
O QUE MAX RICCIO E HUMBERTO AMORIM FALAM
MAX RICCIO: formado em violão pela UFRJ e mestre pela UNIRIO. Atuação na música clássica tanto aqui como no exterior: _ “Fiquei tão encantado com este compositor que decidi me empenhar para difundir mais essas obras, visto que ainda são pouco conhecidas”.
HUMBERTO AMORIM: Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ desde 2007. Doutor em Musicologia, Mestre em Práticas Interpretativas:_ “Quincas cumpriu um importante papel como professor de violão de praticantes mulheres, inserindo o seu trabalho pedagógico dentro do movimento de ‘ressurgimento da canção nacional’.”
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FONTE:
- https://acervo.casadochoro.com.br/cards/view/984
- https://dicionariompb.com.br/artista/quincas-laranjeiras/
- https://musicabrasilis.com/node/119
- https://www.cartacapital.com.br/cultura/o-violao-atual-de-joao-pernambuco-agustin-barrios-e-quincas-laranjeiras/
- https://revistas.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/23178
- https://periodicos.unespar.edu.br/index.php/vortex/article/view/8376
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