LEVINO DA CONCEIÇÃO, QUE SUPEROU LIMITES
LEVINO DA CONCEIÇÃO, QUE SUPEROU LIMITES – Entenda como Levino conseguiu superar seus limites mesmo com a perda da visão ainda em criança. Veja a superação deste homem determinado que foi um excelente músico, multi-instrumentista, professor e compositor. Além disso, trabalhou incansavelmente para a criação de escolas para deficientes visuais em todo o Brasil. Fez palestras em diversas partes do país, tocou em concertos e audições, promoveu festivais e estudantinas.
SUA INFÂNCIA EM CUIABÁ
Levino Albano da Conceição, nasceu em 1895 em Cuiabá, Mato Grosso, e ainda garoto ficou cego vítma de febre amarela. Era filho do tenente do Exército Manoel Albano da Conceição, baiano, e de Carlota Maria da Conceição, catarinense; Levino teve quatro irmãos. Aos seis anos de idade, teve febre amarela com complicações que causaram a cegueira. A família tinha se mudado então para Corumbá, Mato Grosso. Seu irmão Faustino percebendo durante o crescimento de Levino seu talento, lhe deu de presente um violão. Faustino era militar em Corumbá e era músico de Exército. Levino descobriu sozinho os primeiros acordes e melodias. Dessa forma, aos doze anos tornou-se conhecido em Cuiabá como violonista.
OS MÚSICOS DA FAMÍLIA
Músicos não faltaram na família de Levino. O tio Manoel Florêncio, mestre da arte musical, residente em Corumbá, deu-lhe as primeiras noções de harmonia. Dessa maneira, aos 16 anos, Levino Albano da Conceição já era considerado o melhor violonista de Corumbá. Mas o adolescente, já exímio violonista, tinha ambições: não queria tocar apenas violão: queria manejar outras cordas, e aprendeu a tocar bandolim, bandurra (espécie de pequena guitarra espanhola) e cavaquinho. Queria também aprender tocar os instrumentos de sopro. Aprendeu então tocar sax-horne, trombone, bombardino-saxofone, clarinete e pistom. Nesse instrumento se tornou expert, a ponto de se tornar o primeiro pistonista da Banda do Maestro Apolinário, quando tinha 16 e 17 anos.
A CEGUEIRA IRREVERSÍVEL
Levino sonhava mais alto. Queria tocar ainda melhor; tinha sonho também de se curar do seu problema visual. Decidiu mudar os rumos de sua vida. Em 01/09/1903, Levino chegou ao Rio de Janeiro disposto a aprender a tocar ainda melhor. Ele queria também se consultar com médicos especialistas sobre cegueira. Procurou então os doutores Moura Brasil, Fialho, Rego Lopes e Pires Ferreira, porém esses especialistas lhe disseram que sua cegueira era irreversível.
SEUS ESTUDOS NO INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
Levino Albano da Conceição em 13/09/1904, ingressou no Instituto Benjamin Constant (O Instituto foi criado em 17/09/1854 com a presença de D. Pedro II com o nome de Imperial Instituto dos Meninos Cegos, depois mudado para Instituto Benjamim Constant em homenagem ao Dr. Benjamin Constant Botelho de Magalhães professor e diretor do Instituto). Lá então, Levino aprimorou sua técnica e passou a lecionar violão. Aos vinte e dois anos o violonista passou a excursionar pelo Brasil. Realizou recitais, cuja renda se destinava à fundação de escolas especiais para os deficientes visuais. Levino foi então, reconhecido pela sociedade da época e seu nome acabou sendo muito divulgado por este trabalho, mas também pelas suas habilidades e suas composições. Arrecadou fundos para uma viagem até a Espanha. Lá estava a Sede de Convenções sobre a Educação para Deficientes Visuais em 1929. (abaixo foto do Instituto Benjamim Constant no Rio de Janeiro)
OS PRIMEIROS CONCERTOS
Levino foi aluno particular de Quincas Laranjeiras, divulgador do método “A escola de Tárrega”. Acabaram se tonando grandes amigos e ‘Levino ‘se destacou muito pois, bastava o mestre tocar uma única vez para Levino reproduzir a música nos seus detalhes. Em 13/08/1906, Levino iniciou apresentações em concertos. Tocou com Luiz Margutti no Conservatório Livre de Música. Tocou com o maestro Ernani Figueiredoo a ‘Ave Maria‘, de Gounod, em arranjo de Quincas Laranjeiras, e ‘Tarantella‘, de autoria de Levino. Em duo com Quincas Laranjeira, Levino apresentou outra composição de autoria dele: ‘Bolero‘. Houve também em 16/09/1906 um Festival dos Cegos, organizado pelo Instituto Benjamin Constant. Nessa apresentação, Levino regeu um grupo de amadores com violões. Toccou também na Estudantina de Bandolins e Violões, com Quincas Laranjeiras e Ernani Figueiredo e foi dirigida pela professora Maria Amélia de Paiva.
A CAUSA DOS DEFICIENTES
Levino permaneceu no Instituto Benjamin Constant até o final de 1906. Já em 24 de fevereiro de 1907, voltando a Corumbá, apresentou conferência no Edifício da Municipalidade, na qual falou sobre a educação dos cegos. Começou dessa forma, um trabalho incansável pela causa dos deficientes visuais, missão à qual se dedicou durante toda a vida. Ele sempre se empenhou pela criação de novas escolas para deficientes visuais em todo o Brasil. Levino se apresentou também na Câmara Municipal de Corumbá, tocando violino, violoncelo e violão. Em Cuiabá, se apresentou logo depois, no Club Internacional , executando o Hino Nacional no violão, e, também, na bandurra (instrumeto da Ucrânia), flauta, violoncelo e bandolim. Continuou desenvolvendo em Corumbá, atividades musicais e dirigiu assim, nesta cidade uma estudantina (grupo de estudantes que executam música). Em seguida, realizou um concerto no salão da Sociedade Italiana.
VIAGENS: PARAGUAI, URUGUAI, PORTO ALEGRE E CAXIAS DO SUL
Levino da Conceição viajou ao Paraguai e Uruguai. Na viagem de navio apresentou-se à bordo No Paraguai, se apresentou no Teatro Nacional em Assunção. Em seguida foi para Montevidéu no Uruguai, onde além do violão, tocou contrabaixo, flauta, bandolim, e bandurra. Fez uma temporada no Rio Grande do Sul e Caxias do Sul onde realizou diversas apresentações. Ele disse numa entrevista certa vez:_“Em 1914, quando eu já dava concertos em Montevidéu, recebi uma lição pelo violonista uruguaio Martin Lborda Pagola. Esse moço muito sincero assistiu ao meu concerto e no dia seguinte foi me visitar. Apesar dos elogios que me fez, aconselhou-me sinceramente a corrigir a posição das mãos esquerda e direita. E agarrando minhas mãos, me ensinou a puxar as cordas…”
A VOLTA AO RIO
Levino Albano da Conceição volta então ao Rio de Janeiro e realiza, em 29 de setembro de 1923, audição na Associação Brasileira de Imprensa, em homenagem à imprensa carioca; e no dia 17 de outubro promove concerto no Instituto Nacional de Música, ao lado do poeta Catulo da Paixão Cearense. Em 3 de fevereiro de 1924, Levino participou atuando em peças: Revolução Portuguesa e Ceia dos Cardeais, no Teatro República. Teve como companheiro de palco, o discípulo Gustavo Ribeiro, que faria brilhante carreira como violonista.
NA CAPITAL PAULISTA
Na capital paulista, Levino apresentou um recital no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, no qual tocou ‘Mi Madre‘ e ‘Página d’Album‘; além de diversas composições de autoria própria: ‘És Imortal‘, ‘Triste Ausência‘, ‘Há Quem Resista?’, ‘Alma Apaixonada‘, ‘Coração de Artista‘ e ‘Retomada de Corumbá‘. Nas excursões que realizava, Levino lutava sempre pela causa dos deficientes visuais se apresentando como concertista e professor de música – o próprio artista, bem-sucedido e excelente instrumentista, era exemplo de superação. No interior de São Paulo promoveu concertos em Piracicaba e em Santos. Levino retornou à capital paulistana e ofereceu audição dedicada à imprensa, no salão nobre do Correio Paulistano, e no Theatro Sant’Anna.
O ENCONTRO COM DILERMANDO REIS
Nesta série de apresentações pelo país Levino em Guaratinguetá, conheceu Dilermando. Impressionado então, com o talento do violonista o convidou a seguir viagem em sua companhia. Ele se comprometeu a lhe ensinar música, técnicas de violão, e a encaminhá-lo para a vida artística, livre de quaisquer despesas. Dilermando contou certa vez: “_No começo, eu estudava com o Levino, e ele, nos primeiros recitais, não me apresentava como aluno. Mas logo depois de três meses ele fazia a primeira parte e deixava a segunda para eu fazer.” Levino impulsionou a carreira de Dilermando Reis. João Pernambuco também contribuiu muito para que Dilermando “tomasse as rédeas de sua carreirta musical.” Veja post sobre Dilermando Reis neste Blog clicando no link: https://conclavedesol.mastermusica.com.br/dilermando-reis-e-sua-magestade-o-violao)
ÚLTIMOS PASSOS E PARTIDA
Levino se apresentou em 12/121934 no Instituto Nacional de Música do Rio; executou, na ocasião, o Choro nº 1, de Villa Lobos. No ano seguinte se apresentou em Vitória, Espírito Santo no salão da Escola Normal Pedro II; pouco depois, deu um Concerto no Palácio do Governo e depois um Concerto no teatro Gloria. Depois rumou para Belo Horizonte, MG. Em seguida continuou sua peregrinação artística Brasil afora até 20 de fevereiro de 1943, quando promove seu último concerto – em benefício da Sociedade dos Cegos de Fortaleza. Depois de uma vida dedicada a ajudar os outros deficientes visuais, em 28 de outubro de 1947, realiza este último recital, que foi transmitido pela Rádio do Instituto Benjamin Constant. Levino morreu em 19 de fevereiro de 1955, em Niterói, Rio de Janeiro, deixando então, uma lacuna na Música Brasileira.
FONTE:
- https://www.violaobrasileiro.com/dicionario/dilermando-reis
- https://www.ebiografia.com/dilermando_reis/
- https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/100-anos-de-dilermando-reis-vida-obra-e-legado-para-violao
- http://antigo.ibc.gov.br/images/conteudo/revistas/benjamin_constant/1995/edicao-01-setembro/INSTITUTO_BENJAMIN_CONSTANT_UMA_HISTORIA_CENTENARIA_1_1995.pdf
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Nilce, você dá uma contribuição muito grande para a música e cultura brasileira com cada um de seus artigos. Obrigada.
Sandra
Obrigada minha querida.
O nosso objetivo é levar até as pessoas um pouco da nossa história, um pouco de familiaridade com a nossa música tão rica, com a influência de tantos povos que vieram formar a nossa nação.
Nilce
Bonita história de dedicação.
Gilsinho
Sim, a história de Levino é muito bonita, pela força de vontade, dedicação e persistência dele em seus objetivos. Um exemplo para todos nós.
Nilce