HERIVELTO MARTINS, A VOZ DA ERA DE OURO

Choro das Três’ com a interpretação de Paulo Godoy em ‘Ave Maria no Morro’ de Herivelto Martins

HERIVELTO MARTINS, A VOZ DA ERA DE OURO

Herivelto Martins, a Voz da Era de Ouro – Herivelto de Oliveira Martins era o nome dele. Nasceu na Vila do Rodeio, Rio de janeiro em 30/01/1912. Foi um dos maiores compositores brasileiros, cantor, músico e ator. Criou o conjunto vocal Trio de Ouro, um dos mais importantes grupos brasileiros na época. Suas canções já foram regravadas por diversos artistas dos mais variados estilos musicais, sendo sua obra então, considerada uma das mais importantes da época de ouro da MPB; cantores como Dalva de Oliveira, Francisco Alves, Ângela Maria, Elis Regina, Cauby Peixoto, Carmen Miranda, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Gal Costa, Nelson Gonçalves, e Alcione gravaram suas músicas. Herivelto não teve porém, nenhuma formação formal musical, outros profissionais escreviam as partituras de suas composições.

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Era filho do agente ferroviário Félix Bueno Martins e da costureira e doceira Dona CarlotaHerivelto Martins; aos três anos de idade, já declamava versos em eventos organizados por Félix seu pai. Em 1916 seu pai fundou a Sociedade Dramática Dançante Carnavalesca Florescente de Barra do Piraí, que além de bailes, criava e dirigia espetáculos teatrais; organizou também o grupo Pastorinhas de Barra do Piraí, que se apresentava no Natal, com Herivelto vestido de Papai Noel. Seu pai portanto o influenciou muito. Aos 9 anos de idade, o pequeno já compunha. Aos 10 anos participou da Sociedade Musical União dos Artistas, de Barra do Piraí, onde tocava bombardino, pistom e caixa. À princípio tinha preferência pelo violão e cavaquinho. Entre 1922 e 1931, participou também como músico da banda da Sociedade Musical União dos Artistas de Barra do Piraí.

PRIMEIROS TRABALHOS

Os problemas financeiros eram constantes, assim como as discussões domésticas. Herivelto e seus irmãos ajudavam, vendendo os doces que sua mãe fazia. A Empresa de Félix faliu e como tinham hipotecado a casa para saldar dívidas, acabaram perdendo a casa. Aos 12 anos de idade, Herivelto se empregou como caixeiro numa loja de móveis. Depois disso com apenas 13 anos, Herivelto conheceu os artistas circenses Zeca Lima e Colosso, que passavam pela cidade, e com eles formou um trio e seguiu para Juparanã (Rio), onde se apresentaram em um grandioso espetáculo. Infelizmente um ano depois, procurados pela Polícia, Colosso e Zeca Lima foram presos em Vasssouras e o delegado mandou Herivelto para casa. Em 1930, a família se mudou para São Paulo e foram morar no Brás. O Sr. Felix se empregou em um botequim, onde ganhou o apelido de Carioca.

NOVA FASE NO RIO DE JANEIRO

Herivelto não se dava bem com seu pai e aos 18 anos de idade, partiu novamente para o Rio, para tentar uma carreira artística. Dividia o aluguel do quarto com seu irmão, Hedelacy. Para sobreviver, teve que vender o relógio Roskoff “Estrada de Ferro”, presente de seu padrinho. Herivelto foi  trabalhar como palhaço de circo, vendedor, ajudante de contabilidade e, aos sábados, fazia barbas na barbearia onde o irmão Hedelacy trabalhava. Com o dinheiro da gorjeta, garantia o seu sustento da semana. Recebeu então o convite de seu Licínio, para gerenciar sua barbearia. Era sua oportunidade de conhecer os grandes sambistas que ali apareciam. Conheceu então o compositor José Luís da Costa – Príncipe Pretinho – que lhe apresentou a J.B. de Carvalho, do Conjunto Tupi, amigo do dono da gravadora RCA Victor. Sua carreira artística foi impulsionada quando este o levou a um ensaio do Conjunto Tupi.

PRIMEIRAS COMPOSIÇÕES

Herivelto Martins, fez uma parceria com J.B. de Carvalho, e lançou, pela RCA Victor, sua composição ‘Da Cor do Meu Violão‘, homenagem a uma namorada do bairro do Carvão; seu pai insistia em dizer que era escura demais para ele. Fez grande sucesso no carnaval, e Herivelto passou a integrar então, o coro do Conjunto Tupi. Ele inovou ao fazer breques (Paradas bruscas para uma intervenção declamatória) durante as gravações, e por essa iniciativa, o diretor da RCA Victor o promoveu a diretor do coro. Em seguida gravou ‘O Terço do Zé Faustino‘, e ‘O Enterro da Filomena‘. O samba ainda não havia descido o morro e Herivelto criou músicas para homenagear a Estação Primeira de Mangueira: ‘Saudosa Magueira‘ e ‘Lá em Mangueira.  Compôs muitas músicas  e muitos cantores as gravaram: Francisco Alves, Aracy de Almeida, Sílvio Caldas, Aurora Miranda, Carmen Miranda e Nelson Gonçalves.

A DUPLA PRETO E BRANCO

HERIVELTO MARTINS, A VOZ DA ERA DE OURO

Em 1932, Herivelto e Francisco Sena fizeram um dueto que chamou a atenção de todos. Herivelto passou a compor para a dupla. Gravaram ‘Quatro Horas‘ e ‘Preto e Branco‘, de sua autoria. Compuseram juntos, ‘A Vida é Boa‘, gravada por Carlos Galhardo e ‘Vamos Soltar Balão. Gravou, ainda, Como é Belo, de Gastão Viana e Pereira Filho. Gravaram depois ‘Bronzeada, ‘Passado, presente, futuro‘, de sua autoria, ‘Um pouquinho só‘ e ‘Bela morena‘, ambas de ‘Príncipe Pretinho‘, e fez também apresentações na Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Entretanto, seu parceiro Francisco Sena faleceu e o sucesso cessou. Logo depois criou o Palhaço Zé Catinga que fez muito sucesso, principalmente com as crianças. Em seguida formou a nova Dupla Preto e Branco, com Nilo Chagas. e mais tarde gravou junto com Dalva de Oliveira, o batuque ‘Itaquari ‘e a marcha ‘Ceci e Peri‘. 

COMPOSIÇÕES DE HERIVELTO

Herivelto Martins teve enfim, muitos parceiros em suas composições; para citar alguns: David Nasser, Nelson Souto, Benedito Lacerda, Raul Sampaio, Fausto Guimarães, Aldo Cabral. Neste parágrafo citaremos as vinte músicas mais tocadas de Herivelto Martins mas a sua obra é imensa, contando cerca de 600 músicas. ‘Que Rei sou Eu’,  ‘Ave maria no Morro’,  ‘Atiraste uma Pedra’, ‘Caminhemos’, ‘Pensando em Ti’, ‘Cabelos Brancos’, ‘Praça Onze’, ‘Segredo’, ‘Mamãe’, ‘Caminho Certo’, ‘Brinquedo do Destino’, ‘Laurindo’, ‘No meu Colchão’, ‘Morro de Santa Teresa’, ‘Carlos Gardel’, ‘Às três da Manhã’, ‘Hoje quem paga sou eu’, ‘Vaidosa’, ‘Hoje não tem mais jeito’, ‘Ela me beijou’.

OS TRÊS RELACIONAMENTOS DE HERIVELTO

O primeiro relacionamento foi com Maria Aparecida Pereira de Mello. Cinco anos depois separaram-se. Depois Herivelto conheceu Dalva de Oliveira e passaram a cantar em dueto. Iniciaram uma convivência conjugal. Tiveram os filhos Pery Ribeiro que mais tarde fez sucesso como cantor e Ubiratan de Oliveira Martins. Porém o relacionamento não era bom e as constantes brigas e traições por parte dele, deram fim ao casamento. As mágoas eram recíprocas e Herivelto dessa forma, tirou de Dalva a guarda dos filhos e os colocou num internato. Houve depois da separação uma ‘guerra‘ através das composições que gravaram. Em 1946, Herivelto conheceu a aeromoça Lurdes Nura Torelly. Herivelto e Lurdes formalizaram depois o casamento. Tiveram três filhos: Fernando José , Yaçana Martins e Herivelto Filho, além dele criar um filho de Lurdes como seu.

OUTROS TRABALHOS

Herivelto participou de muitos grupos e assumiu cargos significativos na sua carreira. Foi membro da Comissão de Música do Departamento Artístico do Ministério do Trabalho, órgão criado por Juscelino Kubitschek. Jânio Quadros extinguiu esta Comissão logo que tomou posse. Em 1963, foi Presidente do Sindicato dos Compositores, cargo para o qual foi reeleito em 1971. Na ocasião de sua posse para o segundo mandato, sofreu vetos políticos, contornados logo depois. Enfim foi representante da Sbacem, tendo exercido o cargo de presidente do Conselho Deliberativo na década de 1960. 

HERIVELTO E NOEL ROSA

Herivelto Martins Noel Rosa foram importantes nomes da cena musical carioca. Noel Rosa com suas letras inteligente, irônicas e suas composições inovadoras enquanto Herivelto mais voltado para o samba-canção e a música vocal. Veja postagem sobre Noel Rosa neste Blog ( https://conclavedesol.mastermusica.com.br/noel-rosa-o-poeta-da-vila/ ). Muitas foram as parcerias em sua produção musical e algumas se destacaram; Dalva de Oliveira que além de ter sido sua esposa, foi sua parceira musical no Trio de Ouro. David Nasser que frequentemente escrevia as letras, enquanto Herivelto se encarregava da melodia. Nilo Chagas foi o terceiro membro do Trio de Ouro, junto com Herivelto e DalvaFrancisco Alves foi crucial para a carreira de Herivelto, pois foi um dos primeiros a gravar suas canções, ajudando enfim, a popularizar o trabalho do compositor.

SEUS OITENTA ANOS E SUA PARTIDA

Na residência do jornalista Ricardo Cravo Albin, Bairro da Urca, o compositor comemorou em fevereiro de 1992 seu aniversário de 80 anos. Estiveram presentes então, mais de 200 amigos e personalidades da MPB ao jantar no qual o compositor reviveu o Trio de Ouro, ao lado de Raul Sampaio e Shirley Dom. Essa foi uma de suas últimas apresentações públicas. Na ocasião, estavam presentes todos os membros da diretoria da Escola de Samba Mangueira, para a qual o compositor escreveu inúmeras músicas. O compositor Herivelto Martins faleceu no Rio de Janeiro em 17/09/1992. Deixou uma grande lacuna pela grande  contribuição que deu à nossa música brasileira.

HOMENAGENS

HERIVELTO MARTINS, A VOZ DA ERA DE OURO

Em 1982, Herivelto na ocasião de seus 50 anos de vida artística, recebeu uma homenagem dos amigos, realizada no Café Nice. Em 1986, recebeu outra homenagem pela Escola de Samba Unidos da Ponte, com o enredo ‘Tá na hora do samba‘, então ele, o homenageado participou do desfile. Recebeu o Prêmio Shell  em 1987 por seu acervo musical. O prêmio foi entregue no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com um show em que grandes nomes do cenário musical prestaram-lhe homenagem. Estiveram presentes Elizeth Cardoso, Pery Ribeiro, Zezé Mota, Raul Sampaio, Trio de Ouro e Shirley Dom. Em 1992, os jornalistas Jonas Vieira e Natalício Norberto lançaram o livro “Herivelto Martins: uma escola de samba”, pela Editora Ensaio. Recebeu o título de Cidadão Carioca, outorgado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

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Caminhemos – Herivelto martins – Meninas Cantoras de Petrópolis

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