O GÊNIO ZEQUINHA DE ABREU

NEOJIBA – Orquestra Juvenil da Bahia – Tico Tico no Fubá 

ZEQUINHA DE ABREU E SUA INFÂNCIA

José Gomes de Abreu, o Gênio Zequinha de Abreu era filho de José Alacrino Ramiro de Abreu – farmacêutico e de Justina Gomes Leitão. Nasceu em Santa Rita do Passa Quatro em 19 de setembro de 1880. Aos seis anos de idade ele já mostrava ter vocação para a música, tirando melodias na flauta. Sua mãe entretanto, queria que ele fosse Padre e seu pai desejava que ele fosse médico. Mas a sua vocação já despontava e dessa forma, quando ele cursava o curso primário organizou uma banda na escola. Ele mesmo a regia. Incrivelemente aos dez anos ele já tocava requinta, flauta e clarineta e já começava a compor.

ZEQUINHA E SUA INICIAÇÃO MUSICAL

Zequinha estudou inicialmente na sua cidade e depois no Colégio São Luís de Itú. Em seguida, por influência da sua mãe foi para o Seminário Episcopal de São Paulo e lá concluiu o colegial. Mesmo não tendo vocação para a vida eclesiástica este tempo de aprendizado foi muito favorável, porque lá aprendeu harmonia com o Padre Rossini. Voltou para sua cidade natal quando tinha 17 anos e fundou sua própria Orquestra Zequinha de Abreu , tendo em vista se apresentar em saraus, bailes, aniversários, casamentos, serestas e em cinemas acompanhando os filmes mudos. Compôs nesta fase sua primeira valsa: “Flor da Estrada“.

A FACULDADE DE MEDICINA

Atendendo o desejo de seu pai ingressou na Faculdade de Medicina, onde passou apenas dois anos. Ele até se entusiasmou pela carreira mas acabou compreendendo que não poderia se desligar das notas musicais, do teclado de um piano e de sua inata facilidade de alinhar frases melódicas. Resolveu então dedicar-se inteiramente à música. Como teve o Padre Rossini como primeiro mestre conhecia a harmonia e agora nesta nova fase teve aulas com outro mestre, o Maestro, Mhiaffarelli. Adquiriu assim, grande aprendizado. Ele era muito modesto ao falar; por outro lado substituia a expressão dos seus sentimentos para a música. Mas ele era antes de tudo modesto simples e bom; usava para com todos sorriso e palavras de estímulo, de carinho e de fraternidade.

O CASAMENTO

Aos dezenove anos contraiu matrimônio com Dulvalina Brasil que tinha apenas catorze anos de idade. Residiram em Santa Cruz da Estrela (Distrito de Santa Rita do Passa Quatro). Em 22 de janeiro de 1935 deixou a sua companheira viúva. O casal morou por alguns meses no Distrito de Santa Cruz da Estrela, próximo a Santa Rita. Trabalhavam cuidando de uma farmácia e de uma classe de ensino primário.

O PROFISSIONAL ZEQUINHA DE ABREU

Primeiramente foi escrevente do Coletoria e secretário da Câmara Municipal de Santa Rita do Passa Quatro desde 1909 a 1920. Depois foi contratado pelos Irmãos Vitale proprietários da Empresa ‘Casa Beethoven’ em São Paulo como pianista profissional. Eles eram os editores de suas melodias. Consequentemente, passava as tardes tocando piano; estava sempre cercado por um número grande de pessoas que iam ouvir as suas composições cheias de inspiração; os ouvintes se encantavam com a música e proferiam muitos elogios; Zequinha de Abreu ouvia, baixava a cabeça e sorria acanhado cheio de modéstia.

COMO NASCIAM AS SUAS OBRAS

Zequinha de Abreu tinha uma vocação musical surpreendente. Escrevia músicas com a mesma ligeireza com que uma pessoa comum escreve qualquer coisa. Para compor, sentava-se ao piano e dedilhava sem intenção expressa de fazer novas melodias. Lindas frases musicais surgiam como por encanto e ele, rapidamente pegava um papel e caneta e as anotava. Conta-se que numa festa na casa de um amigo, Zequinha de Abreu até meia noite tocou todas as suas músicas já conhecidas. A partir daí até às quatro horas da manhã, só tocou músicas improvisadas, cada uma mais bela que a outra. Durante sua vida compôs obrasem muitos estilos diferentes: maxixes, choros, marcha-patriótica, marchinhas e tangos.

COMO NASCEU TICO-TICO NO FUBÁ

Este choro foi apresentado primeiramente, num baile na cidade de Santa Rita do Passa Quatro em 1917 e se chamava ‘Tico Tico no Farelo‘; o nome foi mudado porque já havia uma canção com esse nome composta por Canhoto. (veja post sobre Canhoto neste Blog).https://conclavedesol.mastermusica.com.br/americo-jacomino-o-canhoto/ O choro ‘Tico Tico no Fubá’ foi imortalizado pela voz de Carmen Miranda e foi trilha sonora de seis filmes em Holliwood. A canção teve uma letra feita no Brasil de Eurico Barreto e Aloísio de Oliveira e outra letra feita nos Estados Unidos por Ervin Drake. Foi tema do XV Mundial de Esportes Aquáticos realizado em Barcelona, foi gravada por Ethel Smith e Ray Connif e por inúmeras orquestras e cantores nacionais e internacionais. ‘Tico-Tico no Fubá’ em conclusão, é considerada a obra maior de Zequinha de Abreu.

CURIOSIDADE SOBRE A MÚSICA

Conta-se que sua esposa lhe pediu que Zequinha tomasse conta do fubá que ela havia preparado para que os tico-ticos não o comessem. Ele ficou observando os ticos-ticos fazerem isso. Viu que eles saltavam daqui para alí enquanto comiam o fubá. Observou que os passarinhos não andavam, mas pulavam. Tentou acompanhar este rítmo no teclado…e aí nasceu a música…mas levou uma bronca de sua esposa quando ela chegou…o fubá estava todo espalhado…pois, ele tinha acompanhado aos piano os pulinhos das aves.

A VALSA, SEU RITMO PREFERIDO

O Compositor tinha um prazer imenso em compor valsas. Parecia ser seu ritmo preferido. Temos conhecimento de cerca de treze lindas valsas compostas por ele. ‘Branca’ é uma delas. As notas musicais tinham que se alinhar naqueles compassos para que ele expressasse o seu sentimento por meio delas. Afinal, elas eram as responsáveis pela transmissão do sentimento dele, através da melodia. Elas transmitiam as palavras de amor que ele talvez pela sua timidez não expressasse. A melodia substituia as palavras de amor, sempre vivas em seu coração; as frases melódicas traduziam então o que ele sentia em cada dor e em cada alegria. Citamos aqui algumas valsas de sua composição: Amando sobre o mar, Aurora, Branca, Elza, Flores Milagrosas, Longe dos olhos, Morrer sem ter amado, Primavera de beijos, Rosa desfolhada, Sedutora, Sublime amor, Tardes em Lindóia. Último Beijo.

SUA PARTIDA

Repentinamente um dia ele partiu. Era 22 de janeiro de 1935. Havia conquitado grande popularidade. Ele apresentava finalmente na sua música, certa serenidade e satisfação íntima. Vivia então em São Paulo; certa noite saiu para atender um encontro marcado para uma reunião. Compareceu à reunião onde organizou um programa para uma festa que iria se realizar dalí a dois dias. Mais tarde, saiu da reunião e caminhou para pegar o bonde. Em frente ao Hotel Piratininga; sentiu-se mal, levou a mão ao peito e cambaleando se apresentava com os olhos arregalados. Pessoas pararam tentando ajudar e Mario Fiori, um enfermeiro o reconheceu: – É Zequinha de Abreu, grita! É um colapso! Chamaram então o Socorro! Infelizmente nada pode ser feito. Ele nos deixou!

O LEGADO

O compositor Zequinha de Abreu, criador de tantas belezas, o compositor das gentes simples… aquele que nem sabia como reagir diante dos elogios e sorria simplemente com humildade.. ele que meneado lentamente a cabeça agradecia num simples gesto com toda a sua timidez… ia agora, finalmente, repousar das suas lutas, após sua vida simples mas profundamente humana. Saia da vida vitorioso e acima de tudo consagrado. A sua música refletiria sempre a sua alma simples e amorosa, pois, o sentimento transpareceria na sua música como se percebe na sua valsa ‘Branca‘.e no chorinho Tico-tico no Fubá, deixando uma saudade profunda no coração dos brasileiros.

Valsa Branca

FONTE:

Não percam a próxima postagem: João Pernambuco, autor de Sons de Carrilhões.


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5 thoughts on “O GÊNIO ZEQUINHA DE ABREU

  1. Zequinha de Abreu, sem dúvida nenhuma, foi um grande músico e compositor, devido a sua sensibilidade, que é a principal característica dos grandes talentos. Basta ouvirmos uma de suas composições, como a Valsa Branca que tem uma melodia que transmite uma sensação de saudades, uma nostalgia misturada com saudosismo. Simplesmente lindo. ????

    1. Marici
      Sim, ele foi um grande músico e soube transmitir na sua obra a musicalidade e o sentimento da alma brasileira. Você cita a saudade. A palavra saudade é tão nossa, tão brasileira que não tem tradução em seu sentido mais profundo em nenhum outro idioma.
      Bjs minha querida.
      Nilce

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