SÍLVIO CALDAS, O TALENTOSO SERESTEIRO

CHÃO DE ESTRELAS – Choro das Três – Interpretação Paulo Godoy

SÍLVIO CALDAS, O TALENTOSO SERESTEIRO

Infância, adolescência e primeiros empregos

Sílvio Antonio Narciso de Figueiredo Caldas – Sílvio Caldas, o talentoso seresteiro nasceu no bairro de São Cristóvão em 23/05/1908. Seu pai, Antonio Narciso Caldas, era dono de uma loja de instrumentos, afinador, mecânico de pianos e compositor. Sua mãe, Alcina Figueiredo Caldas, era cantora amadora. Portanto, estava  inserido numa família de músicos. Assim, aos cinco anos, fez sua primeira apresentação pública, cantando  no Teatro Fênix. Desde então, Sílvio participava ativamente do carnaval de sua cidade, desfilando pelo Bloco da Família Ideal. Aos 6 anos, fez sua primeira apresentação, no Teatro Fênix. Aos 9 anos, começou a trabalhar como aprendiz de mecânico na Garagem Esperança, na mesma rua de sua casa. Em 1924, com 16 anos, foi trabalhar em São Paulo, onde ficou pouco tempo. De lá, foi para Catanduva, onde trabalhou como leiteiro, lavador de carros, cozinheiro de turma, caminhoneiro e mecânico. Em 1927, resolveu voltar pro Rio de Janeiro.

INÍCIO DE SUA VIDA PROFISSIONAL

Começou a carreira profissional em 1927, quando foi levado por Máximo de Albuquerque e fez um teste na Rádio Mayrink Veiga onde começou a atuar. Dois anos mais tarde, passou a cantar na Rádio Sociedade. Em 1937, Sílvio Caldas já era um cantor famoso no cenário nacional. Seu primeiro sucesso, o samba “Faceira“, de Ari Barroso, havia sido gravado em 1931.   (Veja Post sobre Ary Barroso neste Blog: https://conclavedesol.mastermusica.com.br/ary-barroso-samba-exaltacao). Nos seis anos seguintes, consequentemente vieram outras músicas ainda mais marcantes: ‘Lenço no Pescoço‘, ‘Segura Esta Mulher‘ e ‘Mimi’ (em 1933); ‘Boneca’, ‘Inquietação‘, ‘Serenata‘ e ‘O Telefone do Amor‘ (em 1934) e ‘Minha Palhoça’ (em 1935). A inconfundível voz de Sílvio Caldas como resultado,  dava grande dramaticidade às letras de amores perdidos e idílicos, tornando-as acima de tudo inesquecíveis.

SUA PRIMEIRA COMPOSIÇÃO

Nasce o famoso seresteiro

Um certo dia Sílvio Caldas fez um pedido ao jornalista e poeta Orestes Barbosa que ficou muito surpreso. Era um pedido inusitado. Sílvio queria musicar uma criação poética feita por Orestes alguns anos antes. “Foste a Sonoridade que Acabou” era uma poesia em decassílabos (verso com dez sílabas – métrica comum nos sonetos) que narrava a tristeza de um eu lírico masculino que havia perdido a mulher amada. Enquanto ela permanecia ao seu lado, a vida pobre no Morro do Salgueiro tinha ganho a dimensão de uma festa alegre e luxuosa. Veja abaixo um dos trechos mais famosos deste poema:

“A porta do barraco era sem trinco/ Mas a lua, furando o nosso zinco/ Salpicava de estrelas nosso chão/ Tu pisavas nos astros, distraída/ Sem saber que a ventura desta vida/ É a cabrocha, o luar e o violão”.

Beleza poética profunda

Sílvio Caldas ficou apaixonado por aquela letra que era ao mesmo tempo triste mas com uma beleza poética profunda. Ele queria assim, vê-la transformada em uma canção. Orestes Barbosa  autor da letra, receoso do resultado, à princípio negou o pedido do amigo. Sílvio não desistiu da sua intenção. Apesar da negativa do autor, ele musicou o poema mesmo assim. Uma vez pronta a música, o cantor mostrou o trabalho para outro poeta, Guilherme de Almeida. Ele encantado com a canção, sugeriu que seu nome fosse mudado para “Chão de Estrelas” ao invés de “Foste a Sonoridade que Acabou”. Ou seja, além de aprovar a nova música de Caldas, ele a rebatizava com um nome mais simples e comercial.

ENFIM:

Chão de Estrelas

Sílvio Caldas, então com 29 anos, gravou, em 1937, o que seria sua mais famosa canção. “Chão de Estrelas”, contudo, não estourou rapidamente nas rádios do país. Dessa forma, a música só se tornaria um grande sucesso em 1950. Foi nesse ano,quando Sílvio, já um quarentão e considerado um dos melhores cantores do Brasil, regravou-a. A transformação do poema “Foste a Sonoridade que Acabou” na música “Chão de Estrelas” estreitou a amizade entre Sílvio Caldas e Orestes Barbosa. A dupla formou depois disso uma sólida e longa parceria musical, produzindo várias serestas, um estilo muito popular no Brasil na metade do século XX. Compuseram então: ‘Quase que Eu Disse, ‘Suburbana‘, Torturante Ironia e ‘Arranha-céu‘ Apesar de Orestes Barbosa também dividir composições com nomes consagrados da música nacional como Noel Rosa, Cartola e Wilson Batista, Sílvio Caldas foi seu principal parceiro.

Letra Impecavelmente Construída

CHÃO DE ESTERELAS Orestes Barbosa

Minha vida era um palco iluminado, Eu vivia vestido de dourado, Palhaço das perdidas ilusões, Cheio dos guizos falsos da alegria, Andei cantando a minha fantasia, Entre as palmas febris dos corações. Meu barracão, no morro do Salgueiro, Tinha o cantar alegre de um viveiro, Foste a sonoridade que acabou, E, hoje, quando do sol, a claridade, Forra o meu barracão, sinto saudade, Da mulher, pomba rola, que voou. Nossas roupas comuns dependuradas, Na corda qual bandeiras agitadas, Parecia um estranho festival, Festa dos nossos trapos coloridos, A mostrar, que nos morros mal vestidos, É sempre feriado nacional A porta do barraco era sem trinco, Mas a lua furando o nosso zinco, Salpicava de estrelas nosso chão. E tu pisavas nos astros distraída, Sem saber que a ventura desta vida, É a cabrocha, o luar… E o violão.

UMA ANÁLISE DO POEMA

O que torna ‘Chão de Estrelas’ tão especial, como não poderia ser diferente, é sua letra impecavelmente construída. Tudo começa com uma surpreendente descoberta. Como o personagem se sentia. Descrevia sua vida como ‘um palco iluminado’ e que dizia viver ‘vestido de dourado’, mas era na verdade um pobre que morava em um barraco na favela. E a alegria de sua vida era fruto da paixão pela sua mulher amada. O amor fazia com que aquele simples pedaço de terra parecesse, todas as noites, o palco iluminado e as simples roupas dependuradas parecessem que eram douradas e tudo era uma animada festa.

“Nossas roupas comuns dependuradas, Na corda, qual bandeiras agitadas, Pareciam um estranho festival, Festa dos nossos trapos coloridos, A mostrar que nos morros mal vestidos, É sempre feriado nacional”.

No final da canção, vem a parte mais bonita e lírica. As falhas do zinco que fazia fazia com que as luzes das estrelas entrassem na humilde casa durante as noites, sendo refletidas no chão. Com isso, a mulher amada,

“pisavas nos astros, distraída, Sem saber que a ventura desta vida, É a cabrocha, o luar e o violão”.

Enfim esta imagem do casal feliz, em uma casinha simples e sem teto, “pisando nas estrelas” é de uma força dramática sem precedentes. Esta é uma das cenas mais poéticas da música nacional. ‘Chão de Estrelas‘, um verdadeiro hino nacional, para todos os que gostam de músicas sentimentais .

SÍLVIO CALDAS, O TALENTOSO SERESTEIRO

Durante uma serenata no Rio, foi ouvido afinal,  por Antonio Gomes, que o levou à Rádio Mayring Veiga, onde ele, em outras palavras, cantou de graça por algum tempo. Logo depois foi para a Rádio Sociedade. Ele gravou também pela Brunswick. Depois integrou o elenco da Revista O Brasil do Amor. Em seguida,  gravou “Faceira“. Sílvio foi a Buenos Aires e deu início à sua carreira internacional. No ano seguinte gravou “Maria”, composta por Ary. Depois disso  gravou “Eu Vou para o Maranhão“, de Ary, e “Chorei“, de André Filho  e “Mimi”, de Uriel Lourival, e “Na Aldeia“, composta por ele próprio. No mesmo ano, lançou “Segura Esta Mulher“, marchinha de Ary. Um pouco mais tarde foi para à Rádio Mayrink Veiga. Esteve entre os ídolos da época, que eram: Orlando Silva e Francisco Alves. Na época de ouro da MPB. Ficou sendo chamado de “O Seresteiro do Brasil”.

OUTROS GRANDES SUCESSOS

SÍLVIO CALDAS, O TALENTOSO SERESTEIRO

Depois do sucesso de ‘Chão de Estrelas’ em parceria com Orestes Barbosa, Sílvio gravou ‘Meu Limão, Meu Limoeiro’ . Foram gravações que se imortalizaram. Em seguida veio ‘As Pastorinhas’, de Noel Rosa e João de Barro, ‘Minha Palhoça‘, ‘UmCaboclo Abandonado‘, ‘Arranha-céu, ‘Da Cor do Pecado‘, Mulher, ‘Serenata‘, ‘Chuva Miúda‘, ‘Foi Ela’, ‘Até Amanhã‘, ‘Jangada‘, ‘A Jardineira’, ‘Faceira‘. Eram músicas de grandes compositores da época, como Ary Barroso, Noel Rosa, Benedito Lacerda, Orestes Barbosa, Hervê Clodovil, Vicente Leporace, Bororó e outros.

A BUSCA POR TRANQUILIDADE E A PARTIDA

Silvio Caldas, o talentoso seresteiro

Já com idade mais avançada, Sílvio foi se fechando cada vez mais em seu sítio na cidade de Atibaia. Dessa forma, só saía a convite de amigos. Por várias vezes anunciou que ia encerrar a carreira. Talvez buscasse por tranquilidade em um um refúgio mais tranquilo, longe da agitação das grandes cidades. O sítio em Atibaia proporcionava isso para Silvio Caldas.Também as questões de saúde talvez influenciassem na sua decisão. Estar em um ambiente tranquilo, junto à família, rodeado pela natureza, pode ter sido uma maneira de Silvio buscar melhor qualidade de vida e bem-estar. Sílvio Caldas viveu até os 91 anos, vindo a falecer em 03/02/1998. Porém acima de tudo, a influência de Sílvio Caldas na música brasileira é incontestável, e ele é lembrado até hoje como uma das grandes vozes do nosso país.

HOMENAGEM

Silvio Caldas, o talentoso seresteiro

Foi criado no Rio de Janeiro o dia vinte e três de maio, data natalícia de Silvio Caldas como O DIA DA SERESTA!

As pastorinhas – Noel Rosda e João de Barro – Interpretação de Silvio Caldas

Fonte:

Não percam nossa proxima postagem: Carmen Miranda!


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