JOÃO PERNAMBUCO UM DOS PRECURSORES DO VIOLÃO

QUEM FOI JOÃO PERNAMBUCO

João Pernambuco um dos presursores do violão era filho de Manuel Teixeira Guimarães, ferreiro de profissão e Teresa Vieira rendeira; João Teixeira Guimarães era seu nome, nasceu em Jatobá Pernambuco em 02/11/1883; perdeu o pai quando tinha oito anos e a mãe casou-se novamente com Francisco Solano Ribeiro, transferindo-se com a família para Recife. O padrasto arrumou emprego como operário na Fábrica de Tecidos da Torre. Eles foram morar nas casas que a fábrica destinava aos funcionários. João então fazia pequenos serviços de carreto para ganhar alguns trocados que usou para comprar um violão usado. Aprendeu observando os cantadores da feira; o seu talento chamou a atenção de Sr. Laurindo Punga que se ofereceu para lhe ensinar as primeiras posições no violão. Com 15 anos ele conseguiu um emprego numa fundição em Recife.

JOÃO, O MÚSICO E SUA INSPIRAÇÃO

Em 1902, mudou-se para o Rio de Janeiro; à princípio trabalhava como ferreiro numa fundição. Seis anos depois passou a trabalhar como servente na prefeitura do Rio no assentamento de pedras; mudou-se para uma pensão no centro da cidade. Travou contato com violonistas populares, ao mesmo tempo em que trabalhava muitas horas por dia. Mas nunca esqueceu o seu violão. Ele tocava e cantava para seus amigos e admiradores; como ele cantava coisas da sua terra recebeu o apelido de João Pernambudo.  Além do violão, que manejava com maestria e no qual desenvolveu uma técnica peculiar, era hábil na viola. Compôs mais de cem músicas entre choros, valsas, jongos, maxixes emboladas, toadas, cocos, prelúdios e estudos.

JOÃO PERNAMBUCO E A CARREIRA MUSICAL

Como resultado das amizades que fez com músicos como Donga e Pixinguinha foi conhecendo cada vez mais o meio musical do Rio de Janeiro. Faziam frequentemente rodas de música e mesmo havendo muita discriminação em relação ao violão e à música popular por parte da elite, os admiradores aumentavam a cada dia. “A elite desclassificou a criação popular como criação desprovida de valor” (José Leal) e a palavra Folclore passou a ser usada para denominar esta música que surgia no meio do povo e que contava as suas histórias. Aos poucos a classe média alta começou a se interessar e assim teve no maestro Villa-Lobos um grande entusiasta. Os músicos daquela época tocavam e cantavam e muitas vezes não conheciam teoria musical;  também não tinham muita consciência da importância dos direitos autorais. Dessa forma muitos foram prejudicados.

JOÃO PERNAMBUCO E OS DIREITOS AUTORAIS

Naquela época, com grande empenho de Chiquinha Gonzaga foi fundada a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais – SBAT para proteger os direitos autorais dos compositores. (Ver postagem sobre Chiquinha Gonzaga neste Blog (https://conclavedesol.mastermusica.com.br/chiquinha-gonzaga-a-primeira-maestrina-brasileira/) João Pernambuco foi vítima da falta de reconhecimento  de seu trabalho em várias parcerias. Por exemplo: Luar do Sertão – 1911 foi um dos casos. Ele compôs a música e Catulo da Paixão Cearense compôs a letra; infelizmente a música foi registrada apenas no nome de Catulo. Pixinguinha certificou em uma entrevista no Museu da Imagem e do Som, que ele ouviu João Pernambuco tocá-la antes de Catulo colocar a letra. Cabocla di Caxangá também teve problemas e gerou grandes polêmicas por muito tempo até ser reconhecida a autoria da música de João Pernambuco.

Chitãozinho e Xororó e vários famosos artistas cantando Luar do Sertão

SONS DE CARRILHÕES – SEU MAIOR SUCESSO

Sons de Carrilhões foi seu maior sucesso. Ele trabalhou muito tempo forjando o ferro para os carros de bois e deste trabalho simples tirou a inspiração para sua maior obra. Esta obra Sons de Carrilhões é o som do eixo do carro de boi e não o som dos sinos, como primeiramente a gente supõe. Tornou-se quase um hino para todos os músicos que tocam violão. João continuava sempre em contato com outros músicos e mais tarde em 1916, montou a Troupe Sertaneja e fez parte dos Oito Batutas com Pixinguinha. (ver postagem sobre Pixinguinha neste Blog: https://conclavedesol.mastermusica.com.br/pixinguinha-um-icone-da-nossa-musica/). Compôs também Cabocla di Caxangá (com Catulo da Paixão Cearense), Dengoso, Estou voltando (com Pixinguinha e Donga), Estrada do Sertão (com Hermínio Bello de Carvalho), Graúna, Interrogando, Luar do Sertão (com Catulo da Paixão Cearense), Rosa Carioca Valsa em lá.

JOÃO PERNAMBUCO UM DOS PRECURSORES DO VIOLÃO

João Pernambuco, pois, é um dos precursores do violão, pois com sua maneira peculiar de tocar foi fundamental para dar uma característica a este instrumento. Junto com Quincas Laranjeira e Levino Albano da Conceição formaram o que os especialistas frequentemente chamam de ‘A Santíssima Trindade’ dos precursores do violão brasileiro. João aprendeu tudo, de fato, com seus mestres nas ruas, sem saber ler partitura ou cifras. Portanto, foi assim que estabeleceu e definiu a linguagem do violão brasileiro, como resultado de seu trabalho, sendo o primeiro brasileiro a compor música exclusivamente para violão. A obra violonística de João era de tal densidade e profundidade que Villa Lobos se manifestou: “…Bach não se envergonharia em assinar os estudos de João Pernambuco como sendo seus…”.

‘SONHO DE MAGIA’ E ‘PRELÚDIO N. 5’

João Pernambuco compôs ‘Sonho de Magia’. Villa lobos admirava muito o trabalho de João e frequentemente  estava nas rodas de choro que João e seus amigos promoviam. João sempre morou em pensões depois que veio para o Rio. Pois nunca constituiu família. No livro de José Leal ele narra que Arnaldo cunhado de João, lhe contou que certa noite foram ao Teatro municipal assistir um concerto do Villa Lobos que num certo momento interpretou o ‘Preludio n. 5’. Percebeu-se uma inquietação nas pessoas da plateia presente e Arnaldo então ouviu o comentário: Parece “Sonho de Magia” de João Pernambuco... (veja Sonho de Magia no vídeo abaixo e quem quiser comparar, disponibilizamos aqui, o link do Prelúdio n. 5 > https://youtu.be/wFlIZni92-k – atentem para o primeiro movimento!). João não tinha conhecimento de Teoria Musical. Quem escreveu muitas partituras pra ele foi Quincas Laranjeira. João muitas vezes foi prejudicado com relação aos direitos autorais.

O NÃO RECONHECIMENTO DE SUA OBRA

Muitos estudiosos atualmente, reclamam da falta de reconhecmento da obra de João Pernambuco. Entretanto José Leal, jornalista e pesquisador de música, radicado em Hamburgo, na Alemanha, desde meados dos anos 1980 conta a história de João Pernambuco. Dessa forma o destaca como um dos maiores compositores e um dos criadores de uma forma peculiar de interpretação. João chegou ao Rio aos vinte anos com seu violão e uma muda de roupas levado por Catulo da Paixão Cearense. José Leal fez pesquisa sobre João Pernambuco; como resultado sua monografia foi transformada em livro: Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco: uma infinita viagem. Ele cita então na sua obra: -“A arte de compor de João Pernambuco apresentava cromatismos, contrapontos, acordes dissonantes, diminutos os quais foram criando a marcante linguagem musical do violão brasileiro.” 

A PARTIDA

Nem mesmo a data do nascimento em 02/11/1883 e nem a data de morte em 16/10/1947 são comemoradas.  Afinal deviam ser, pois, estas datas marcam eventos importantes. A primeira marca os 140 anos de nascimento e a segunda a passagem daquele que deixou importantes obras; obras que contribuiram para que o violão deixasse de ser um instrumento relegado a segundo plano só fazendo acompanhamernto. O violão passou então, a ser um instrumento a fazer, finalmente, interpretações em solo. Em 2021, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto do deputado estadual Waldemar Borges, instituindo assim o 16 de outubro – aniversário de morte do compositor – como o Dia Estadual do Choro em Pernambuco. A iniciativa entretanto, não teve grande repercussão pública e infelizmente parece não ter despertado interesse dos gestores da área. E foi nesta data foi que perdemos um dos grandes músicos brasileiros. Faleceu no Rio de Janeiro em 16/10/1947.

ALGUMAS PERSONALIDADES FALARAM DE JOÃO PERNAMBUCO

“…Bach não se envergonharia em assinar os estudos de João Pernambuco como sendo seus…”.(Villa Lobos)

“João Pernambuco está para o violão assim como Ernesto Nazareth está para o Piano”. (Mozart de Araújo – musicólogo)

“Dificilmente se encontra um violonista brasileiro, seja ele músico erudito ou popular, que não tenha em seu repertório alguma música do João.”(Maurício Carrilho – violonista)

Villa Lobos falou de João Pernambuco

“Junto com a música de Heitor Villa-Lobos, a obra de João Pernambuco tornou-se “a mais legítima expressão do jeito brasileiro de tocar o violão” Maurício Carrilho – violonista)

“Falar de João é fundamental, pois se uma pessoa estuda violão, de maneira consciente ou não, necessariamente vai se encontrar com João Pernambuco, mas se a pessoa tem consciência deste legado, vai aprimorar o seu desempenho com o instrumento e quem ganha com isso é a música brasileira”. (José Leal, jornalista e pesquisador de música, radicado em Hamburgo, na Alemanha).

“Ele é muito importante não só pro violão. Ele foi para o Rio de Janeiro a música nordestina na bagagem, mas ele virou um músico brasileiro, com muita coisa de choro, valsa, maxixe, associando isso à música do sertão. Para o violão ele é muito importante porque colocou toda essa linguagem brasileira no violão. Hoje parece muito natural, mas, na época, era muito ousado. Por isso, ele é tão importante para o violão brasileiro como Ernesto Nazareth foi para o piano”. Rodrigo Leite Cavalcanti (Coordenador do Conservatório Pernambucano de Música e professor de violão da instituição Rodrigo Leite)

José Leal fala em seu livro: ” …Iremos conhecer mais sobre João Pernambuco, que com seu forte caráter agregador nos ensina e nos inspira com sua forma simples de viver.”

Sonho de Magia

NOTAS

Não percam a próxima postagem: PATÁPIO SILVA


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